Fui Comprar Cigarros



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OY!

Confesso que curtas-metragens nunca foram o meu forte. Vergonha dizer isso mas por algum motivo eu nunca me interessei tanto por eles. Foi quando comecei a pesquisar mais sobre o processo de produção de uma película que dediquei minha atenção aos curtas, os quais podem ser considerados como a base da maioria dos diretores e roteiristas.

Eu sou da teoria de que "menos" pode sempre significar "mais". E o fato desse tipo de filmagem possuir um tempo reduzido, não quer dizer que seu conteúdo seja inferior. E é exatamente por isso que, hoje, apresento-lhes Fui Comprar Cigarros (2012).

Eu fiz uma entrevista com o roteirista Leonardo Castelo Branco, que me contou um pouquinho sobre o processo criativo do roteiro e a produção do filme que é construída sob a forma de uma poesia, capaz de enrijecer a alma dos espectadores. Não perguntei exatamente o literal significado que o curta quer nos passar, pois acho que esse é o real barato do cinema: desenvolver uma angulação individual do que assistimos inclinadas às experiências pessoais para, desta forma, nos tornemos hábeis de extrair nossa própria compreensão.


FUI COMPRAR CIGARROS: O desafio de levar poesia para as telas.


Fui Comprar Cigarros
Ano: 2012
Direção: Marcel Mallio
Roteiro: Leo Castelo e Rose Calza
Origem: Brasil

É sobre o quê?

Depois de se apaixonar à primeira vista por sua musa (Laryssa Dias) e após uma intensa e vívida noite de amor, um jovem fumante (Laerte Késsimos) sai para comprar cigarros e na volta, não consegue encontrar o apartamento de sua recente paixão.

Todo o tempo perdido durante sua procura o fará analisar e refletir consigo mesmo a sua própria existência, praticando um interessante exercício reflexivo e de autoconhecimento.
Como eu vim parar aqui? As linhas tortas do meu pensamento se materializaram ali, diante da forma daquela bela mulher. 

Eu gostei de:

Eu continuo reforçando que devemos sempre valorizar o nosso cenário cinematográfico brasileiro. Se não fosse por isso, eu nunca teria encontrado em Fui Comprar Cigarros (2012) uma obra na qual eu tanto me identificasse.

A experiência de assisti-la equivale a presenciar versos tomando formas físicas na tela e se construindo na forma de movimento. E como em uma poesia, suas palavras atingem a cada um de uma forma diferente, assim como sua interpretação.

Diante de uma ótica metafórica e um discurso quase metalinguístico, temos um enredo que atua sobre a premissa do vazio interior de um protagonista que preenche, com nicotina, as lacunas de sua vida. Sem destino, viaja de mulher a mulher em uma procura de si mesmo, até que o vício pelo cigarro se materializa na forma de um amor. A trama é composta de uma leveza surpreendente, mas ao mesmo tempo impactante.

É impressionante ver como o roteiro de Leonardo Castelo Branco é bem construído em um “ciclo vicioso viciante”, que faz com que você acompanhe com muito interesse os poucos minutos do destino, da angústia e da percepção de autoconhecimento do protagonista.
(...) às vezes, os caminhos se entrelaçam. Pelo meu já se entrelaçaram loiras, morenas, negras e até orientais. O meu apartamento era um verdadeiro entra e sai, um sobe e desce e também um vai e vem desordenado. Eu gostava de viver assim, dentro daquela bagunça. De certa forma aquilo me fazia bem...
Além disso, conseguiram retratar de forma interessante um assunto pertinente à maioria dos fumantes: a dificuldade em parar de fumar.

Essa foi a inspiração para a criação dessa história, que surgiu da tentativa do diretor Marcel Mallio de romper com o vício. A intenção do roteiro seria exatamente abordar um assunto, por muitas vezes maçante e clichê devido à sua ocorrência, de uma maneira original e criativa. Visando agregar uma nova linguagem e uma fotografia belíssima em tons de cinza, que remetem à cor e a fumaça do cigarro.

No entanto, eles também possuíam o desafio de criar uma intimidade emocional coerente entre os personagens em pouco tempo de película, o que conseguiram com sucesso. Para isso, dois dias antes do início das filmagens os atores Laerte Késsimos e a belíssima Laryssa Dias - que está no elenco de "Salve Jorge", próxima novela do horário nobre da Rede Globo - foram submetidos à uma preparação teatral na qual o diretor os instruiu a praticarem exercícios que os fizessem buscar os sentimentos, sejam eles de dor ou de alegria. Dessa forma, eles seriam capazes de desenvolver o grau de intimidade correto para que os personagens pudessem viver naturalmente essa paixão tão intensa em poucos minutos.
Entre as retas e curvas que desenhavam a minha existência, conheci a forma mais simetricamente bela de todas. Quanto mais eu reparava nos detalhes dela, mais eu ficava irradiante e ao mesmo tempo relaxado. Um misto de sensações verdadeiras e indescritíveis.
Eu acho o nível de produção independente altíssimo, rico em detalhes, qualidade e elegância. Certamente superior a muitos longas que vemos por aqui. Mas esse grau de profissionalismo também é recorrente aos inúmeros trabalhos anteriores da dupla, cuja prática cinematográfica começou na produção de filmes publicitários, além de terem acumulado alguns trabalhos premiados ao longo dos anos. Inclusive, o diretor Mallio já foi indicado ao "Prêmio Profissionais do Ano" e já trabalhou ao lado de Fernando Meirelles.

Também é relevante, principalmente para quem se interessa em algum dia produzir algo, ter uma noção de todo o desenvolvimento. Por isso, perguntei ao Leonardo sobre todo o procedimento de produção. Desde equipamentos, passando pelo orçamento e até as estratégias de divulgação.

Nessa conversa, ele me contou que o equipamento utilizado para a capturação do vídeo foi uma câmera Canon 5D. O orçamento do curta-metragem ficou em torno de 80 mil reais e todo o projeto levou quase um ano para ser concluído. "Fazer cinema aqui no Brasil é complicado, ainda mais sem amparo nenhum. O filme foi todo pago por quem trabalhou nele, e isso da um gostinho todo especial de ter feito parte deste projeto.", afirma o roteirista.
Dizem que é preciso se perder para se encontrar, mas eu já estou me perdendo há muito tempo. A minha vida é um ciclo vicioso viciante. Mas e agora que eu estou apaixonado?

Os meios de distribuição que eles utilizam para a divulgação é pela internet, e sua repercussão está obtendo um resultado bastante positivo. Os dois já estão preparados para exibir o filme em mostras e festivais internacionais, cuja intenção inicial seria levá-lo a Roterdã, na Holanda.

Acho que podemos esperar coisas boas vindas desta dupla, inclusive, eles já estão preparando um novo média-metragem com o título de O INTRUSO. Leo Castelo conta que o tema será sobre inspiração, processo criativo e o limite entre a loucura e a sanidade. Tudo isso sob a ótica de um escritor de ficção científica barata. Ele também descreve o processo criativo de um roteiro como “uma das partes mais gostosas, principalmente quando se faz cinema. Descobri escrevendo Fui Comprar Cigarros (2012) e agora, em uma nova obra a qual estou me dedicando quase em tempo integral”, assim que completada, eles pretendem procurar por financiadores para a concretização do projeto.
Quem diria? Depois de tantas voltas, a vida ia me trazer até aqui.


Vale a pena? Vou gostar?

Acho que já ficou mais do que claro dizer que vale a pena. É sempre importante, para quem curte cinema, se tornar interessado por tudo o que aparece. Você sempre vai encontrar boas surpresas.
Também é sempre válido apoiarmos o empenho de profissionais da área, principalmente se forem do nosso próprio país.

Por ser um projeto independente, não tenho muita certeza se agradará a todos. Querendo ou não, muita gente não consegue enxergar o que eu chamaria de “the whole picture” e é possível que pensem que o curta faz apologia ao fumo. Por isso, a sugestão que dou - e a mesma que Leonardo recomenda - é que assistam de cabeça aberta, apreciem com atenção e se deixem levar.....
A vida é feita de idas e vindas, entradas e saídas. Acho que a sensação de estar perdido é que mantém a gente pra frente. Logo estávamos livres. Por mais torto que estivéssemos, vemos tudo com clareza, na mesma linha, como se fôssemos um só ser. Experimentar o amor foi uma experiência inexprimível. Transcendental.

Curioso? Deixo aqui o vídeo para vocês conferirem na íntegra! (Clique para assistir)

E até semana que vem!


2 comentários:

Laerte Késsimos at: 21 de outubro de 2012 às 13:23 disse...

oi por favor, so venho pedir que troque o link do video que vc coloca ai no fim da materia pelo link oficial https://vimeo.com/48261836
esse link de youtube foi criado sem permisao e vamos pedir para desabilitar.
obrigado

Lucas Ka7o at: 22 de outubro de 2012 às 09:03 disse...

Arrumado!

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